Magic: the Gathering

Opinión

Throwback Magic: Cruel Control de Gabriel Nassif - Standard/2009

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Neste artigo, que procura trazer uma análise de decks que fizeram história no Magic, analisamos o Cruel Control utilizado por Gabriel Nassif para ganhar o Pro Tour Kyoto de 2009!

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revisado por Tabata Marques

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Índice

  1. > A História
  2. > O Deck
  3. > Maindeck
  4. > Sideboard
  5. > Legado
  6. > Conclusão

Sejam bem-vindos ao Throwback Magic, uma ideia totalmente improvisada.

Um dos meus maiores fascínios com Magic: The Gathering é a história do jogo, não apenas em lore mas também a história do jogo em si como arquétipos, eventos, atualizações, jogadores, entre diversos outros pontos que nos fazem compreender melhor o jogo do qual tanto dedicamos nosso tempo, e já possui uma vasta história nos seus 28 anos de existência.

Portanto, estarei procurando aprofundar mais o meu conteúdo em cima de momentos históricos do jogo, e uma das melhores formas de contar essas histórias são através dos decks utilizados pelos jogadores em grandes eventos e que deixaram suas marcas na trajetória de Magic.

Hoje, estarei falando de um dos decks que eu tive o prazer de presenciar, ainda nos meus primeiros anos de Magic, deixar a sua marca na história do jogo: o Cruel Control, pilotado pelo jogador francês Gabriel Nassif, vencedor do Pro Tour Kyoto de 2009.

A História

Era o Standard de Lorwyn-Alara (Lorwyn/Mornigntide + Shadowmoor/Eventide + 10th Edition + Shards of Alara/Conflux), Faeries era o melhor deck do formato desde o Standard passado, possuindo diversas boas colocações nos eventos competitivos de alto nível e era um dos decks favoritos de muitos dos principais jogadores profissionais da época devido a sua mistura de consistência, jogadas desafiadoras e ótima sinergia entre suas cartas, o que o tornava um dos arquétipos mais complexos de ser masterizado, mas também um dos mais recompensadores em fazê-lo.

Com um deck predominante por duas temporadas seguidas, a Wizards começou a printar respostas pontuais em suas edições para lidar com o arquétipo, uma prática que era extremamente comum numa época onde anúncios de banidas e restritas no Standard era um enorme tabu para a comunidade e para a própria Wizards.

Entra no Standard, com Conflux, Volcanic Fallout.

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Pode parecer estranho, mas apesar do Cruel Control já existir antes do lançamento de Conflux, foi a inclusão de Volcanic Fallout que deu ao arquétipo o elemento que ele necessitava para ter uma participação mais ativa no Metagame, oferecendo uma resposta limpa dentro de uma combinação de cores mais palpável para o deck (que antes precisava investir uma quantidade maior de acesso á mana verde para utilizar Cloudthresher para lidar com Faeries), por um custo mais baixo e que não podia ser anulado.

Naquele mesmo formato, encontrava-se outra gama de decks que utilizavam criaturas pequenas para ganhar o jogo contra os diversos decks que procuravam ganhar através de trocas de 1-por-1, em especial os White-Based Aggros, que abusavam de cards como Spectral Procession e drops de custo baixo junto de Glorious Anthem, em especial os decks Boros que incluíam a combinação de Reveillark com Siege-Gang Commander e Ranger of Eos com Figure of Destiny, e os decks de BW Tokens que utilizavam de ameaças agressivas junto a elementos disruptivos como Thoughtseize e Tidehollow Sculler para obter uma vantagem.

A final do Pro Tour Kyoto, onde este deck marcou história, foi justamente um jogo entre BW Tokens, pilotado por Luis-Scott Vargas contra o famoso Cruel Control, pilotado por Gabriel Nassif. Mas foi nas quartas de finais que um dos momentos mais épicos da história do Magic.

Nassif estava contra o britânico Matteo Orsini Jones, que também estava participando do evento jogando de BW Tokens, em jogos que estavam relativamente bem equilibrados numa Melhor de 5.

Com ambos os jogadores empatados e diante da última partida, Matteo havia conseguido trocar bem seus recursos contra Nassif, utilizando descartes para lidar com o Cryptic Command, utilizando Path to Exile para remover bloqueadores e estabelecendo uma forte pressão na mesa com Mutavault e Burrenton Forge-Tender.

Antes de levar Nassif a 4 de vida e ficar a um ataque de avançar para as semifinais, Matteo conjurou Thoughtseize, revelando apenas uma Reflecting Pool na mão de Nassif, e ao passar o turno, Gabriel Nassif começou a reorganizar suas lands antes de comprar o card, e você pode conferir o épico desfecho desta história no vídeo abaixo.

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Este momento é um dos mais simbólicos da história de Magic: The Gathering até hoje, e levou o Cruel Control a se tornar um dos decks mais famosos do jogo.

O Deck

A lista, conhecida anteriormente como Five-Color Control, foi inicialmente desenvolvida por Patrick Chapin, Guillaume Wafo-Tapa e Manuel Bucher antes mesmo do lançamento de Conflux, onde o arquétipo apostava num acesso maior ao verde com Cloudthresher, utilizava Wrath of God e contava também com os planeswalkers Ajani Vengeant e Liliana Vess, além de algumas listas utilizarem Nucklavee para poder reutilizar suas mágicas.

A lista de Gabriel Nassif, entretanto, era uma versão mais atualizada, utilizando adições de Conflux como a staple Volcanic Fallout e também Wall of Reverence como um card que permitia ao deck segurar os decks Aggro quando utilizado em conjunto com Plumeveil em seus respectivos turnos.

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O deck procurava abusar da interação das Vivid Lands (como Vivid Creek) com Reflecting Pool, onde um terreno que dissesse “você pode gerar uma mana de qualquer cor” permitia à Reflecting Pool gerar mana de qualquer cor.

Dessa maneira, em conjunto com as Filter Lands, como Mystic Gate e Cascade Bluffs, o deck conseguia ter acesso à meios consistentes de jogar Volcanic Fallout ou Esper Charm no turno 3 ou 4, Cryptic Command no turno posterior, Broodmate Dragon e Cruel Ultimatum, todos dentro da sua respectiva curva e comumente sem problema algum, já que sua manabase era um grande facilitador para este acesso.

O deck continha diversos elementos para lidar com o Metagame da época, como, por exemplo, uma cópia de Celestial Purge para lidar com Bitterblossom e Ajani Vengeant com o mesmo card, e Pithing Needle, que servia contra os mais diversos Planeswalkers, que eram relativamente novos na época e não existiam tantos meios de interagir bem com eles e também contra outros cards como Figure of Destiny ou Mutavault.

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Seu plano de jogo era essencialmente o clássico plano de todo deck Control: Fazer trocas favoráveis, acumular card advantage, responder às ameaças do oponente com removals e counters e então começar a jogar bombas como Broodmate Dragon e Cruel Ultimatum para fechar o jogo em poucos turnos.

Maindeck

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Mulldrifter hoje é um card que vê jogo exclusivamente no Pauper em decks como Tron, Jeskai Ephemerate e Familiars, mas o card era uma grande staple do Cruel Control em 2009, num formato onde pagar três manas para comprar dois cards e ter um corpo para devolver para a mão com Cruel Ultimatum era importante para a sinergia do deck, enquanto jogá-lo por cinco manas num jogo já estabilizado permitia ao deck manter seu fluxo de cards enquanto estabelecia um lento, porém necessário, clock para ganhar o jogo.

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O Standard de Lorwyn-Alara possuia uma quantidade significativa de decks que tentavam atacar com criaturas pequenas que cresciam com lords tribais como Scion of Oona ou com pumps em massa como Glorious Anthem e Ajani Goldmane, e nesta ocasião, Plumeveil era o blocker perfeito por se tratar de uma criatura 4/4 com Flash, servindo muitas vezes como um “removal” que ficava em jogo para bloquear outras criaturas do oponente, ganhando tempo o suficiente para que o arquétipo pudesse virar o jogo.

Plumeveil também tinha uma interação avassaladora com Wall of Reverence, uma adição de Conflux ao deck que não apenas segurava muito bem as criaturas atacantes, permitia ao deck ganhar uma quantidade de vida significativa ao lado da outra barreira, ganhando ainda mais tempo para estabilizar o jogo.

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Todo control precisa de finishers, e num mundo onde Planeswalkers não são as máquinas de ganhar jogos que são hoje e nem existiam cards que conseguiam realizar diversas funções em simultâneo, enquanto também serviam como winconditions, Broodmate Dragon era a melhor opção, principalmente porque produzia dois corpos que não morriam para Agony Warp e cujo um deles também não morria para Terror, além de estabelecerem, juntos, um clock de três turnos contra um oponente que comumente já teria gastado todos os seus recursos.

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O card que dá nome ao deck nunca foi utilizado com mais do que três cópias nas listas, em especial porque se trata de um card péssimo de se ter múltiplas cópias, já que era sua jogada de turno 7.

Cruel Ultimatum é um dos exemplos mais devastadores de Card Advantage existentes no Magic, já que ele essencialmente oferecia um 10-por-1 (comprar três cartas e o oponente descartar três, voltar uma criatura do cemitério para a mão e o oponente sacrificar uma criatura, além de ganhar cinco de vida enquanto o oponente perdia cinco de vida), e dessa maneira o card era capaz tanto de selar um jogo, já que poucos jogadores conseguiam voltar de um Cruel Ultimatum resolvido, quanto fazer com que o seu controlador voltasse instantaneamente para o jogo com um único card, como ocorreu com Gabriel Nassif diversas vezes durante o Pro Tour Kyoto de 2009.

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Broken Ambitions era o melhor counter incondicional de early-game que o formato tinha, e a sua habilidade de Clash muitas vezes tornava-se relevante por dar um pseudo “Scry 1” aos jogadores, permitindo ao seu controlador ter melhor controle do topo de seu deck.

Cryptic Command é considerado até hoje um dos melhores counterspells existentes no jogo, e era considerada a melhor carta do formato na época, junto de Thoughtseize e Bitterblossom.

Uma mágica tão flexível como Cryptic Command permitia ao deck ganhar mais tempo para virar o jogo ou buscar o sweeper necessário contra decks agressivos, enquanto servia como uma resposta incondicional contra qualquer coisa que decks mais lentos procuravam utilizar.

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O card era uma staple em praticamente todo deck azul do formato, e muito do sucesso do Faeries teve a ver com o fato do deck ter Bitterblossom, Thoughtseize e Cryptic Command a seu dispor.

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Curiosamente, o módulo mais importante de Esper Charm era o de destruir encantamentos, pois resolvia a maior ameaça do formato na época: Bitterblossom, e poder dedicar slots de maindeck com um card que era altamente eficiente em lidar com o encantamento, mas que nunca era inútil na maioria das ocasiões, tornava Esper Charm uma ótima adição para qualquer deck que procurava jogar de maneira reativa.

Como Glorious Anthem também era amplamente utilizado na época e uma combinação do encantamento com Ajani Goldmane ou duas cópias do encantamento resolviam a ameaça de Volcanic Fallout, Esper Charm tinha um valor agregado ainda maior ao lidar com o encantamento, já que mantinha as criaturas do oponente na “zona do sweeper” enquanto reduzia significativamente o clock na mesa.

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O matador de Faeries.

Mas não era apenas Faeries que era afetado pelo card, já que existia uma quantidade significativa de decks competitivos que utilizavam pequenas criaturas para ganhar o jogo rapidamente.

Isso não quer dizer que o card era totalmente perfeito para o Metagame: decks como os de Doran, The Siege Tower podiam simplesmente ignorar a existência do card no deck já que suas criaturas tinham naturalmente uma resistência alta, tornando-o irrelevante.

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Os one-ofs do deck eram cards condicionais que você comumente queria apenas em partidas específicas.

Celestial Purge tinha muitos alvos úteis no formato e comumente as demais listas utilizavam mais do que uma cópia no maindeck já que lidava com Bitterblossom, Figure of Destiny, Doran, the Siege Tower, dentre diversos outros cards por apenas duas manas, sendo uma resposta muito flexível.

Terror era o único removal pontual do deck, que apostava muito mais em trocas favoráveis de 2-por-1 para se estabilizar, e possuía uma quantidade significativa de alvos válidos em momentos cruciais do jogo.

Por fim, como já mencionado anteriormente, Pithing Needle era um dos poucos meios que o formato tinha de lidar com Planeswalkers, enquanto sua utilidade também servia para habilidades de cards como Mutavault, Figure of Destiny ou demais permanentes com habilidades ativadas.

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Como mencionado anteriormente, o deck procurava abusar da interação de Reflecting Pool com terrenos que possuíam meios condicionais de adicionar mana de qualquer cor, como as Vivid Lands para tornar sua manabase estável.

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Apesar de entrarem viradas, as Vivid Lands eram o coração do deck, já que costumavam ser sua jogada nos primeiros turnos e permitia ao deck acesso a qualquer cor de mana por pelo menos dois turnos, mesmo sem acesso à Reflecting Pool.

Exotic Orchard, hoje habitualmente utilizada em decks de Commander, também permitia à Reflecting Pool adicionar mana de qualquer cor, e não costumava ser uma land que atrapalhasse o arquétipo já que os demais decks habitualmente utilizavam cores das quais o deck quer ter as fontes de mana necessária nos turnos certos.

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Porém, não eram apenas com lands interligadas entre si que o deck jogava: as Filter Lands permitiam ao deck utilizar as suas mágicas no timing certo ao adicionar manas de cores distintas ou iguais, e sendo muito bem utilizadas com a habilidade das Vivid Lands, servindo como uma cola que conseguia juntar a interação da manabase multicolorida com as demanda e duas ou mais cores que o deck continha com Volcanic Falloit, Plumeveil, Esper Charm ou Cruel Ultimatum.

Sideboard

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Counters pontuais são comuns nos decks de Magic até hoje, e Negate é uma grande staple desde seu lançamento em Morningtide.

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Apesar de Volcanic Fallout ser um ótimo sweeper na época, ele não era perfeito.

Primeiramente, ele não lidava com todas as criaturas e era um card pouco útil contra decks que utilizavam criaturas maiores, como os decks de Doran, por exemplo, o que trazia grandes dificuldades ao deck já que ele possui pouquíssimas interações pontuais.

Segundo, Burrenton Forge-Tender era comumente usado de maindeck ou sideboard pelos decks Não-Faeries onde Volcanic Fallout era realmente bom, abrindo uma janela de oportunidade para os oponentes poderem facilmente jogar em volta do card.

Wrath of God e Infest procuram justamente cobrir estas duas fraquezas que o arquétipo possuía ao dedicar seu principal slot de sweepers à lidar com o principal deck do formato na época.

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Outra relíquia de um passado mais simples, Scepter of Fugue era uma boa opção para as partidas de atrito, onde obter mais card advantage que o oponente era extremamente relevante.

Hoje o artefato pode parecer uma opção muito fraca para o Standard, mas o card era o melhor meio de, por um custo baixo (portanto, dando menos oportunidades de resposta do oponente ou abrindo oportunidades de procurar resolvê-lo com um counter de backup), obter uma vantagem significativa ao remover todo turno um recurso importante da mão do oponente enquanto acumula seus próprios recursos com os demais cards da lista.

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Não existiam muitas ameaças que se protegiam bem contra removals na época e pudessem ser utilizados tanto de maneira proativa quanto de maneira reativa, mas Wydwen, the Biting Gale fazia um bom trabalho em ser uma ameaça e bloqueador eficiente que podia ser devolvido para a mão de forma recorrente para atrasar o jogo do oponente, enquanto servia como uma forma de estabelecer um clock com Flash e que se protegia por conta própria quando você precisava acelerar o seu jogo.

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Wispmare era essencialmente um Disenchant com um corpo 1/3 com Flying, algo relevante contra os decks de Bitterblossom.

Já mencionei acima a importância de Celestial Purge naquele formato, e uma cópia adicional no Sideboard me parece mais do que obrigatório diante do Metagame da época.

Legado

Infelizmente, o legado do Cruel Control durou pouco tempo: Alara Reborn trouxe a mecânica de Cascade para o formato, enquanto M10 trouxe cards como Lightning Bolt, que eventualmente transformariam o Jund em um dos principais competidores do Metagame e no melhor deck do formato após a rotação.

O Cruel Control, ganhou boas adições como Baneslayer Angel e continuar a fazer resultados até a rotação de Lorwyn tirar o deck a sua manabase extremamente flexível e, principalmente, Cryptic Command que permitia ao deck manter-se a par com os efeitos de 2-por-1 propostos pelo Jund.

No Standard seguinte (Alara-Zendikar), o deck simplesmente não tinha os elementos necessários para acompanhar os demais decks do formato sem estes cards e com uma manabase piorada que não permitia o fácil acesso ao branco, enquanto precisava apostar em counters ruins como Double Negative para acompanhar a velocidade e os efeitos de 2-por-1 no formato, e nem mesmo o lançamento de Jace, the Mind Sculptor ajudou o arquétipo, já que as versões de UW Control eram muito mais eficientes em ganhar jogos já que tinham acesso fácil para cards como Baneslayer Angel e Day of Judgment, e a inclusão de Spreading Seas nestes decks também não colaborava para o plano ganancioso de jogar com Cruel Ultimatum.

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Quando o Modern foi anunciado, diversos jogadores procuraram montar listas de Cruel Control no formato, e apesar de o deck conter todos os elementos necessários, conjurar um Cruel Ultimatum não se comparava às mais diversas opções viáveis existentes no formato, acabando por tornar-se uma opção obsoleta dentro do Magic competitivo.

Hoje, você pode encontrar algumas listas de Commander que usam Cruel Ultimatum ou até mesmo tentam reproduzir um estilo de jogo parecido com o que o deck costumava utilizar.

Conclusão

Esta foi minha análise do Cruel Control, deck pilotado pelo francês Gabriel Nassif para ganhar o Pro Tour Kyoto de 2009 e ficou mundialmente conhecido na história de Magic pelo seu topdeck mágico nas quartas de finais do evento.

Caso tenha gostado deste conteúdo, deixe seu comentário abaixo, e desta maneira procurarei tornar desta série uma coluna semanal da Cards Realm!

Obrigado pela leitura!